Comunicado | União Libertária
Dia 10 de outubro de 2024, o grupo neonazi queerfóbico, Habeas Corpus, foi impedido de invadir o evento LGBTQIA+ de apresentação do livro “Dar e Receber Amor em Todas as Suas Formas”, graças à organização colectiva de grupos e pessoas queer antifascistas.
Como sempre e sem nenhuma surpresa, a polícia defendeu quem tentava impedir a entrada de neonazis LGBTQfóbicos.
Original: https://uniaolibertaria.pt/grupo-queerfobico-impedido-de-entrar-em-evento-lgbtqia/
Dia 10 de outubro de 2024, o grupo neonazi queerfóbico, Habeas Corpus, foi impedido de invadir o evento LGBTQIA+ de apresentação do livro “Dar e Receber Amor em Todas as Suas Formas”, graças à organização colectiva de grupos e pessoas queer antifascistas. Os cinco membros desta organização fascista, entre eles Djalme Santos e José Pinto Coelho (Ergue-te), tentaram aceder à Livraria Buchholz, onde se realizava a apresentação do livro, organizada pela AMPLOS – Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género, sendo impedidos por um cordão humano à porta do local.
Como sempre e sem nenhuma surpresa, a polícia agrediu quem tentava impedir a entrada de neonazis LGBTQfóbicos.
Essa mesma Polícia de Segurança Pública, que se encontrava a escassos metros da Livraria, em nenhum momento tentou impedir os membros queerfóbicos de entrar no local, tendo apenas intervido quando se formou o cordão à porta da livraria. Nesse momento, viveram-se “momentos de tensão”, como os media apelidaram, em que a PSP, para espanto de absolutamente ninguém, afasta à força as pessoas que estavam no cordão, atirando pelo menos uma pessoa ao chão e agredindo algumas outras, em vez de proteger o público e oradores dos membros fascistas.
Depois de terem afastado todas aquelas que não aparentavam ser do grupo Habeas Corpus, a Equipa de Intervenção Rápida chegou e fez um perímetro de (in)segurança na entrada da livraria, onde passaram a estar os fascistas, convivendo pacificamente e cordialmente com os jornalistas, que se divertiam a gravar as caras de militantes antifascistas que os fascistas ainda não tinham conseguido gravar.
Apesar disto, a missão foi cumprida: mostrámos que é possível a defesa ativa e aberta contra a violência queerfóbica. O evento não deixou de acontecer, nem foi interrompido, ao contrário de todos os outros eventos que o grupo Habeas Corpus apareceu para espalhar ódio. Mais de cinquenta pessoas estiveram presentes, do lado de fora, para garantir que a organização de extrema-direita não repetia a tática disruptiva que já empregou várias vezes.
Os fascistas decidem, finalmente, abandonar o local e a polícia decide também que esse é o momento perfeito para efetuar uma detenção completamente aleatória a uma pessoa que estava presente com um megafone. Motivo? Como estava a utilizar um megafone, seria ela a promotora da “manifestação” (leia-se defesa de um evento LGBTQIA+). Fica a questão se ser portador de um megafone constitui um ato ilegal ou uma “conduta inadequada”, como disse a autoridade. No entretanto, a polícia desmobilizou violentamente todos os ativistas que defendiam o evento.
Este dia permitiu-nos, então, retirar alguns pensamentos, conclusões e aprendizagens.
Espantou-nos o papel inexistente, ou pelo menos invisível, que a Livraria Buchholz decidiu ter relativamente à defesa do evento LGBTQIA+, quando no evento de apresentação do livro de Passos Coelho “Identidade e Família” nesse mesmo local, manifestantes queer que se encontravam à porta foram rapidamente afastados pela polícia. Irónico, não é?
Também ouvimos algumas pessoas que se encontravam no evento a defender o “trabalho” da PSP, mesmo após terem visto com os seus próprios olhos que não foi a polícia que impediu os neonazis de entrar na Livraria – aliás, nunca foi intenção deles sequer -, mas sim os inúmeros membros defensores do evento.
Como Kuwasi Balagoon, membro do Partido dos Panteras Negras e Exército de Libertação Negra, disse:
“When a gay group protests lack of police protection by making an alliance with police to form a gay task force, they ain’t making a stand against the system, they are joining it. Putting more power in the hands of those who attack them for being what they are in the first place.” (1)
Devemos ser nós e apenas nós a garantir a segurança dos protestos e eventos LGBTQIA+, diminuindo a dependência da polícia para resolver os problemas das nossas comunidades e, consequentemente, diminuindo a violência policial. Temos que estar na luta pela libertação queer, seja enquanto pessoas queer, seja enquanto cúmplices da luta. E para tal precisamos de movimentos sociais, baseados na solidariedade, autodefesa e resistência. Precisamos de confiar em nós próprias e estabelecer relações organizadas e solidárias com grupos que se aliem à luta contra ideologias, ataques e violências queerfóbicas. E a solução não está na polícia ou num governo queer friendly, já que estes são e sempre serão perpetuadores de violência institucional.
E aqui, tanto é ingénuo quem reclamava “isto não é democracia”, exigindo às forças de violência policial uma tomada de posição agresiva sobre os neonazis que ali se encontravam – como se essas forças não convivessem plenamente com o fascismo -, como é ingénuo quem reclamava “isto é democracia”, enquanto abria o diálogo com alguns dos neonazis presentes sobre temas sobre orientação e identidade, como se o ódio fosse debatível. É precisamente porque “isto é democracia” que a democracia burguesa e capitalista não nos serve.
Não nos servem também os meios de comunicação social que normalizam o fascismo, a queerfobia e o racismo. Os mídia reproduzem o discurso de ódio e a ideologia normativa, que valoriza o parecer das instituições, da política formal e da cultura instituída – afastando as comunidades marginalizadas duma identidade partilhada que é branca, cisgénero e heterosexual. Não são nossos aliados – são nossos inimigos.
Não queremos ser mais vítimas da queerfobia, nem precisamos que outros nos defendam, quando nos temos a nós próprias. Muitas de nós somos queer, mulheres, trans, trabalhadoras, estudantes e recusamos a lógica vitimizante que nos é constantemente imposta. Não estamos “em risco”, não precisamos de ser protegides, muito menos pela polícia ou pelo Estado. Repetimos as vezes que forem necessárias: “A nós não nos cuida a polícia, cuidam-nos as nossas companheiras”. Porque nos atacam, iremos contra-atacar. E para tal, precisamos de construir os nossos próprios grupos autónomos queer, órgãos de apoio mútuo, autodefesa e cuidado.
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