Tortura na Tuga – ilação impossível

Ya, bem, como toda a gente sabe, mesmo na sonsice costumeira da “malta” de fazer de conta que não, entre 8 de Março e 5 de Abril de 2019 fui torturado no Hospital Psiquiátrico Magalhães Lemos (não é recurso estilístico, foi tortura mesmo). E outras torturas antecedentes e subsequentes se passaram. Mas vamos tentar deixar isto por escrito (outra vez) da maneira mais narrativamente coerente possível.

Então apareço no meio libertário na margem sul, aí Maio de 2017, aulas de alemão, és bófia não és bófia, ali é a António Maria Cardoso, rua da Pide, e eu a trabalhar na padaria tranquilo não esperava visitas. Quezílias mais se passam, que se foda esta merda, alguém os ature.
Então bora ver os tripeiros, eles têm um sotaque engraçado mas queria ouvi-lo com mais frequência, assim quotidianamente. Estão a foder isto tudo, habitação, bora mexer-nos. Entra em cena o Gonçalo Gomes (este é nomeado mesmo, depois vocês fazem-lhe uma massagem se ele tripar – para não ser tão corriqueiro como apetece), muito curioso, mas pronto o dread até me dava mais espaço, o resto da “malta” sempre em cima de mim, não se calava mesmo, a comentar tudo nas assunções e comentários mais insultuosos e humilhantes possíveis, mesmo aquela pressão de grupo fodida, e depois sem me dizerem nem porquê nem nada, mesmo naquela de que o chavalo é estranho então vale tudo. Mas este dread era um marxista-leninista cordial, e caí na esparrela. Não na esparrela soviética, essa já é antiga, mas nas manhas que o resto da malta “anarquista” que lhe tem grande reverência montou. Há coisas ainda bastante imprecisas (se fossem precisas não teriam acontecido, ou teria havido táctica de as combater, e claro ninguém quer saber). E depois há coisas bastante difusas, e nada que ver com ganzas (que o pessoal usava como racionalização manipuladora acerca deste “internamento”), lembro-me de tudo, mas mais porque sempre puxo da memória sinto tal dor e revolta que reprimo mais que o contrário – com esta parte não estou a tentar fazer disto sofá-cama, é mais que a minha subjectividade ajudará porventura a explicar o porquê da injustiça de tudo isto (não deveria ser necessário, mas para a “malta” sou saco de pancada), a intenção é que isto seja mais informativo, se houver floreado retórico é porque vocês (outro parêntesis aqui em relação a este vocês para dizer que se não gostam de que se dirijam no plural deviam parar de agir como pandilha de puberdade) aparentemente não acham suficiente QUE FUI TORTURADO, CARALHO. Parece que estou a escrever a puta de um filme de hollywood daqueles mesmo xaroposos, tenho que dar motivações e traços de carácter redentores para convencer de alguma coisa, quando NADA JUSTIFICA A TORTURA.
Enfim, começo a dar-me com o Gonçalo Gomes, praticante de Krav Maga, funda-se o Grupo de Apoio à Habitação (a presença web deste grupo aparenta haver sido obliterada, mas acho que ainda há uma entrevista com uma rádio local de fácil acesso – o Gonçalo participa, com o sotaque de Castelo de Paiva para dar aquela pinta obreira de quem não vive no Porto há 15 anos), e faz-se umas reuniões, etcetera etcetera. Nos espaços que frequentava no Puorto, assim nominalmente libertários (cóf cóf, mas ei, estão nas páginas dos jornais de informação crítica) o pessoal começou a ver problemas onde não existiam; eu estava na minha, pouco falava, mas era “esquisito”. Sabem, um gajo esquisito, irritante, provocador? Mas o que é que ele disse? Não faças perguntas inconvenientes, é para queimá-lo é para queimá-lo, bora dar-lhe ganzas atrás de ganzas que é para ver se ele tripa. E o pretexto caiu que nem ginjas, e mesmo daquele bullying intenso a abater-se, durante o consumo que é para depois ser atribuído a alucinação. E o pessoal a vigiar-me pela cidade (qualquer coisa aqui sobre não ser conspiração, aliás acho que quem lê sabe da veracidade do que conto, isto é mais para registo que outra coisa, não tenho muita pachorra para necessitar de me validar perante quem apenas toma por verdadeiro o que pode ser publicamente veiculado). Já agora aproveito, eu que não tenho tendência para a estrutura de textos precedente, isto é assim para o gonzo (ou a ideia romântica do gonzo), depois vou acrescentando cenas nos comentários ou assim consoante surgirem ou que resposta isto possa ter (se é que terá alguma, e se é que a “malta” do indymedia não incorrerá na sua prática censatária habitual, mas já tentarei dizer algo sobre isso). Mas quem não sabe, se é que há alguém, que não saiba, porque isto foi tão disseminado e persecutório a ponto de fazerem da minha existência telenovela, quem não sabe que fique com a noção, isto para mim, e acho que nem só na altura mas hoje também teria, teve impacto da pesada, o que o pessoal dizia era inacreditavelmente cruel e maldoso, pelo menos pelos meus padrões ingénuos (como me dizem: “ah, mas tu és alguma criança?” e coisas análogas, o que me parece uma maneira bastante retorcida de associar atitudes de merda a uma suposta maturidade – e idadismo e assim, mas estou a tentar evitar chavões porque esses o pessoal sabe e está a foder-se para eles). O quer que fosse que suscitasse estas atitudes, nem vou reproduzir extensivamente, era consensualmente justificado, ninguém discordaria de que eu merecia todo o sofrimento possível e imaginário. Neste ponto do que escrevo mais uma vez entra em consideração qualquer possível manipulação minha que estou tentando evitar, mas talvez necessite mostrar o tamanho dos sapatos para dar a ideia da caminhada. E depois especulações intrusivas à brava sobre a minha vida, que me faziam sentir mesmo desconfortável (a palavra aqui é mesmo violado, só que este mesmo pessoal que andou a escavar pelos detalhes sórdidos da minha vida usa as suas próprias descobertas contra mim, a ver se já sou mais específico sobre isto). Era picardias, geralmente de um dread que necessita de se proteger do Sol porque não ouve bem, e tudo alinhava, está tudo tranquilo. E usavam o meu comportamento contra mim, olha este ganzado, este tarado sexual encapotado, este inapto, este esquisitóide – o que quer que seja, ainda que nenhuma incorrecção específica de maior me pudesse haver sido apontada, a cena era mesmo montar a campanha, e da vibe que eu dava ninguém duvidava. Sim, já ouvi dizer, isto é o “mundo real”, não há cá exercícios teóricos postos em prática da culpa e da inocência. Várias coisas: projecção do que seria exercício e não seria é inevitavelmente errada, porque foi feita a assunção igualmente “adulta” e “madura” bastante “normal” de que eu seria um merdas como eles e os usava como cobaias; invalidar comportamento dissidente (distinguir da palavra divergente em voga só porque sim, distância dessa moda desresponsabilizante do pessoal que encontra validação em enquadramentos frenizantes, institucionalizados ou não, e nesse tempo nem se falava muito disso) atribuindo-lhe a qualidade de mera demonstração ou birra, quando não é disso que se tratava. O que significa que se tivesses o mínimo de teoria, e nem é preciso ler sequer linha de texto algum para a ter, que te permitisse abstrair do cinismo do “mundo real”, terias tentado perceber o outro, aferir-lhe da sensibilidade, não lhe atribuir motivações em nome de uma qualquer universalidade comum.
Então, enfim, isto avança, o tempo passa. E depois há outro moralismo em cena: o trabalho, o bules. O chapeleiro uma vez até numa festa falava bem alto de mim aos outros sobre a minha “fetichização da pobreza”. Isto soa esquisito – porque é que o gangster da insurreição não diz isso na cara directo, como se faz em Ermesinde? É que cabedal só os casacos (falso cabedal obviamente, e bem) nesta cena antagonista, a cena é mais mexericar e ir espalhando a mensagem, fazer negociatas parlamentares em larga escala (o Rato Vadio era no largo do Gato, ou vice-versa? agora estou confuse). Então ya, eu não trabalhava. Moral do trabalho, desenhos do Bruno Borges, tudo bem que isso vende, em dinheiro e crédito social, mas a “malta” é reaça à brava. E de facto, é verdade, não gosto muito de trabalhar, evito sempre que posso. Mas esta cena reaça servia para pôr a cidade (foi mesmo a cidade em massa, o que faz especular se quando foi o cerco do Porto não era só uma pessoa a tentar entrar na cidade, provavelmente um viajante sem simpatias absolutistas algumas, e os liberais romantizaram tipo que estiveram sob ataque intenso, assim também eu era inbicto) contra mim, os escravos felizes, das esquerdas das direitas dos centros, gostam muito disso do trabalho, é daquelas coisas que liberta. Isto vai acontecendo, já estamos aí em Fevereiro de 2019. Agora é o ponto alto do telefilme, ele tem de ir lá e pedir desculpa à “malta”. Porquê? A quem? Agora? Não faças perguntas difíceis, comes e calas, se não os Inbictos, corajosos que eles são, 250 mil contra um, roubam-te cenas à socapa, chaves de casa, mudam fechaduras, perseguem-te pela cidade. Eu na altura ia dar o bazo da cidade, tinha oferta de trabalho no estrangeiro, eles deviam ter-me deixado, mas a mesquinhez vingativa falava mais alto, então desaparece-me tudo, documentos. E todo o lado por onde passava, o pessoal a comentar, e as pessoas com quem eu falava a isolar-me, nem me atendiam telefonemas nem nada. E eu, na minha ignorância, sem saber porquê mas com aquele sentimento de culpa a subir, alguma tu fizeste e foi mesmo das más, vais ficar de castigo. A princípio parecia engraçado, que estava a ver uma ópera com palco de cidade inteira e eu era o único espectador, tudo a cantar, mas depois começou a assustar-me (esta parte de desaparecerem as minhas coisas foi eficiente nesse aspecto). Então ligo a algumas pessoas: olha, desculpa. Ah, por isto não é preciso? Ah, então e por isto? Fui mesmo uma besta nesta cena, não fui? Não, ah e então nesta? A malta do Puorto não tem sangue na guelra, tem é na cabeça, porque nestes mentalismos são magistrais. Aliás de guelra são fraquinhos, é só paleio, depois de habituar já se sabe. Então vou pedindo desculpa, limpando a minha alma, exorcitando os meus pecados. Mas isso não é suficiente. Dia de reunião do GAH (o tal grupo de habitação), 7 de Março de 2019. O Gongas liga-me, bora? Epá, bora. Decisão da mais elementar lógica, já agora deixa ver o espetáculo na fila da frente. E depois vamos os dois, está também lá a Maria José (uma moradora da Lapa que ia aparecendo, a ver o que poderia ganhar, só podia, porque auto-determinação parecia que lhe era meio antitética, mas o Gongas sempre foi bom com o nobre povo), e um Pedro de Braga, que diz “Destas manhas em Braga…” do que se infere que estas manhas em Braga não passavam (marchas do Cónego Melo já passam, mas isto não convém dizer, que estraga esta tirada macholas de pretensa ameaça). A Maria José “O Costa e a Cristas estiveram a cozinhar o novo NRAU, não foi?” E eu digo qualquer coisa do meu tio (um familiar é bófia, e eu sei lá, sempre tive a famelga em cima, até de detective privado para me localizar quando saí de casa – a sério -, podia ser por aí, até porque o Gongas tinha mandado uma boca antes a pretexto do Mamadou Ba – o costume é mandar bocas por vias travessas, como já aludido, parecem a Elizabeth do Orgulho e Preconceito no engate – “achas normal alguém que critica a actuação da bófia ter escolta policial?” e eu fiquei naquela, assumi que houvesse jogo de gabinete), e depois bazamos e o Gongas “vamo-nos safar”. Esta foi uma reunião atípica, chegamos a casa eu e o Gongas, vivíamos no mesmo esquema arrendatário, a um destes filhos da puta senhorios que deveriam conhecer o Ravachol pessoalmente em vez destas manhas do NRAU, e ele alimenta-me. E nem fez o avião! Como é que é suposto eu conseguir comer depois destes acontecimentos? “Como eu disse ao meu irmão [ele tem um irmão gémeo] uma vez: tu confia em mim!” e lá me dá a comida e depois “Tu queres dormir comigo?”. Eu estou mesmo estafado, e não é que ele não pudesse ter sido interessante a dada altura, mas agora este bdsm era demasiado elaborado e ele não parecia que me queria ou pessoa de respeitar palavras-passe, eu só queria mesmo dormir, nem carícias nem nada, fui para o quarto dele, ele diz-me que tem um amigo do SIS em Castelo de Paiva que trata de uns papéis, enfia-me um diazepam goela abaixo. Na noite anterior, ele já tinha estado na pressão, a ler O Feminismo Ontem e Hoje à minha frente (sou mesmo perigoso, ora bolas) e na picardia geral. Eu adormeço com aquela sensação de que amanhã acordo com uma venda nos olhos na floresta, mas acordei mesmo na mesma cama, ao som dos Dire Straits, se não estou em erro. Aí 7 da matina, não mais, pôs o Gonçalo a música no PC. Eu estou todo fodido já, esta marcação global está a entrar-me nos nervos, digo “Acordaste-me?” “Acordei. Às vezes preciso que me acordem para me porem a trabalhar. Tu é que não confias em mim porque tenho um computador”. E agora já estamos num desenho animado checoslovaco depois da primavera (que não deve ser chamada de primavera, apenas um revisionista o faria, foi um golpe da reacção com o patrocínio do Ocidente de modo a enfraquecer a pátria dos trabalhadores – como aliás o Gongas prontamente notaria) porque estas falas são mesmo a nata da nata. Então, eu pego o computador e jogo-o ao chão a tentar parti-lo, já chega, estão a levar-me ao desespero. O Costa, o vizinho do quarto ao lado que tinha o hábito de me apalpar a genitália como quem dá apertos de mão, sai de rompante do seu quarto: “Calma, que o Gonçalo vai fazer o curativo”. Eu respondo “Também vais fazer o curativo, ò Costa?”. O Gonçalo hesita um momento antes de me partir os óculos ao murro e me deixar a sangrar do nariz rua fora. Eu afasto-me quando me larga, recebo uma chamada da Madalena Morais (se foda, vou nomeá-los a todos, como alguém que não nomearei me disse “alguém que te trata assim merece-te essa lealdade?”) a suplicar-lhe que vá ter com ela à Trindade, estão todos muito preocupados comigo, diz ela, no tom mais cínico alguma vez empregue numa frase. Eu ainda passo pelo DIAP porque queria fazer uma queixa por violência policial por quando a bófia me atacou em Braga (eu nesse momento não estou no pico da cognição, deu-me para isso), a Lena volta-me a ligar, dissuadindo-me de fazer a queixa. Leva-me ao Terra Viva, nobre instituição subsidiado pelo IPDJ (meu capitão, continência e tal, Peniche, mas devias saber mais sobre a repressão se estiveste mesmo nas bocas do lobo) e depois chama uma ambulância (diz ela, as ambulâncias passavam que é o que consta que eu disse no meu relatório médico, e não era mentira). Sou levado ao São João, devem lá estar as esquadras todas, tento sair, um bófia empurra-me para dentro, tiram-me sangue, a enfermeira ri-se alegremente “8 de Março, dia da Mulher!” (ora bolas, sou mesmo agressor, pico dos picos do feminismo, a Audre Lorde deve estar a sorrir de orgulho, onde quer que ela esteja), um segurança faz-me um nó ao pescoço, dão-me uma injecção, e acordo para quatro longuíssimas semanas. Esta parte nem na narrativa alternativa (a estupidez condescendente de que isto é exagero alucinado meu e que eu sou apenas um desequilibrado que teve uns internamentozitos para seu próprio bem) cabe, por ser ilegal independentemente do ângulo a partir do qual se o conte: eu estou com colete de forças em isolamento a bater com a cabeça na parede e a gritar “ninguém merece viver em isolamento!”. Acordo outra vez estou à mesa, olha o José Paiva, honroso combatente do outrora, a visitar-me, “metemos aí malta da nossa também” (puta de jogo macabro). Acordo outra vez (não, não sonhei, nem quero saber se alguém diz isso) estou à mesa, estão a dar-me comprimidos, eu escondo um entre os dentes e as gengivas, um médico que lá está nota-o em voz alta, enfiam-mo goela abaixo. Acordo, estou no pátio do OBS. Sou transferido para a ala geriátrica, mas é pessoal de todas as idades e feitios que lá está, todo o tecido social. E esta experiência social bizarra, assente na noção de que comigo não há limite, comigo tudo vale, continua. Eu não sei bem o teor da experiência, é o quê? Docilizar-me? Isso só? Qual é a lição em causa? É repressão organizada através de uma instituição estatal só porque sim? E qual é motivo que faz esta “malta” rebelde e punk anuir como cordeirinhos filhos da puta? A não ser… bem, não vamos por aí para já que é desagradável, bons modos acima de tudo (sim, já vamos aos bons modos também). Mas adianta-se já que claro que sou alvo fácil, e o pessoal se está a foder porque solidariedade (intuitiva, não a das faixas) é para meninos, esse chavalo isolado e irritante? Morra longe.
Alguma da “malta” foi visitar-me periodicamente ao hospital, assim sadicamente, para regozijar com a humilhação alheia (toda a gente participou disto, a aldeia toda, o menino é de Lisbôa, bora juntar ao molho), lembro da Lena a ir lá uma vez e tudo o que ela fez foi fazer pose de gozo a sussurrar “Risperidona…Risperidona…”. Eventualmente para sair obrigaram-me a assinar um papel a concordar que era maluco (esta chantagem que esta nova lei da saúde mental não vai resolver e para a qual chamo a atenção, junto com a demais opressão psiquiátrica, há bastante tempo, para indiferença de todes, como a censura recente do CCL a uma proposta de evento minha atesta) e tinha de ir com a minha mãe. Vai embora, leva o carrinho. Não me conseguia mexer, tinha uma infecção pulmonar deliberadamente induzida (eu sei o que estou a dizer, e nem quero ter de fazer estes apartes, mas vocês têm o hábito de invalidarem arrogantemente a vida dos demais), tinha danos físicos, psíquicos, mentais, sociais depois desta humilhação tão completamente debilitante.
Estou na vida no Sul, a recuperar pouco a pouco, a levar injecções, a psiquiatra do Estado que me foi atribuída, uma Margarida Bernardo, retira-me o ambulatório compulsivo, agora é ambulatório voluntário (que poderá passar a compulsivo num estalar de dedos, é só apetecer-lhe, e apeteceu), vou tomando as injecções, uma vez que a ameaça era que o regime voltasse a ser compulsivo se não o fizesse, até deixar de me apetecer, mudo-me para a Cidade dos Arcebispos, encontrei lá um bules. Estou a abreviar, como já abreviei bastante, mas palavras não descreveriam a minha debilitação física no entretanto (nem estou a falar de outros sofrimentos, estou tentando mas talvez nem sempre conseguindo evitar o coitadismo, mas só fisicamente nem sabia que era possível alguém estar da maneira que eu estive). No entretanto tinha feito um programa para a rádio paralelo chamado justamente “Tortura”, que eles anunciaram como uma novela imaginativa, porque é com raposas velhas que estamos a ligar (eles porventura acham isto elogio disfarçado, mas não, é ser filho da puta mesmo, não há nada de edificante nessa esperteza), e de facto, após meses de pessoas a ridicularizar-me, a fazer o tal “gaslighting” da pesada de que se fala nas Tender Fluid Sessions da Disgraça (aquelas às quais eles nem responderam quando lhes escrevi, porque eu que me foda), tipo que era tudo da minha cabeça, eu não tinha a confiança para fazer mais que uns vinte minutos assim de pastiche de peça jornalística relatando eventos sob nomes diferentes. Ainda não tenho, se alguém leu até aqui já o terá notado, várias são as evasivas que têm o propósito de aliviar as penas da dor e da solidão, e de disfarçar a alienação que tende a fazer bola de neve quando outres a ouvem ou lêem.
Logo entrei na faculdade no Puorto, mudei-me para lá. Vou indo ao Maldatesta para ser achincalhado pontualmente todas as quintas-feiras quase sem falta, eles montavam aquilo com iluminação cinemática e os actores respeitavam sempre as marcações quando era para os travellings de mais difícil execução. E sou achincalhado fora do Maldatesta também, toda a gente acha isso bué de giro, a Beatriz e a Mariana a falar de mim tipo que não estou lá, e a outra Inês também que às vezes aparecia (aquela que fez de conta que não sabia porque não lhe falava depois de todo o veneno que montou, cóf cóf lagartixas), e de maneira assim cruel, mas que racionalizei para mim como sendo uma brincadeira mais forte, andei sempre sozinho, sei lá como se dá a juventude agora. Ah, e fui expulso da Gralha. Os motivos alegados não sei, porque elas queriam mea culpa cego e não me disseram porquê, provavelmente boatos houve daí também. Mas os motivos reais suspeito-os. Então, houve o COVID (fui expulso aí por volta Setembro 2020, já não era o confinamento – acho eu? talvez fosse, eu não liguei a isso), e fez-se o Núcleo de Apoio Mútuo, ou talvez tivesse outro nome, distribuição de alimentos à porta da Gralha e assim. E depois fez-se esse ponto de recolha exclusivo a trabalhadoras do sexo. Isto soa empoderador, talvez. A mim soou-me aos cheques sociais que o CDS propunha há uns anos. Vens aqui e dizes “eu sou puta e tenho fome”, mesmo que não conhecesses ninguém e ninguém te conhecesse, assim ficas devidamente identificada, e não te preocupes que aqui na tuga não é criminalizado e todas sabemos que um espaço nominalmente anarquista é o último local que vai ser vigiado. Pois, não me soou tão brilhante. Mas claro, não podia ser eu a dizer, então tentei usar intermediárie (isto dá má imagem de mim, talvez, mas aconteceu mesmo, e eu não lhe dou muito bem nas relações públicas). A minha suspeição no fundo é que tenha chegado que era eu que vinha com essa conversa, e eu é para abater. Então um dia chego lá e mandam-me embora. Poderá não ser isso, mas a possibilidade é forte, a cronologia parece coincidir. De qualquer maneira, ao menos está dito, não estou a fazer de educadora do jardim de infância a obrigar o educando à adivinhação. Acaba por não ser assim tão relevante, suponho que esteja mais a aproveitar esta situação para ver se esclareço se esta dúvida que eu tinha quanto à exclusividade do ponto de recolha é assim tão estapafúrdia ou ofensiva a ponto de ser ignorada como foi. Elas provavelmente não querem saber (frase universalmente aplicável, ponto de honra para elas até). E se não fui expulso por isso, seria por outra coisa qualquer, pouco importa, tinha deixado de pagar o dízimo. Ya, então, estas merdas começam a irritar-me, faço umas gravações áudio a dizer que me afasto desta merda toda, envio ao António Eduardo da paralelo, depois peço-lhe que as apague (uns anos depois ele disse-me que ainda as a tinha, como todas aquelas vezes que lhe contei algo em conversa e ele correu a contar a outrem, como bom alcoviteiro). Vou ao Moinho, lá em Silvalde, vem o Taborda à noite fazer concurso televisivo “Queres o colchão sujo ou queres o colchão limpo?”, tipo que o saxão (da Saxónia) me matava. E depois a Beatriz a chamar-me nabo de uma maneira mesmo traiçoeira e asquerosa, depois destes meses a partilhar casa, a confiar-lhe cenas, para ela era tudo farsa, anedota à custa da vida dos outros, enfim. Apercebo-me que parece que me afasto do fio narrativo. Mas nem tanto. A cena aqui é que se montou nova ópera na área metropolitana do Puorto, mas desta vez acho que tenho uma nota melhor, não me expulsam da cidade como fizeram os liberais, um espetáculo de milhares de figurinos a fazer as cenas deles, tens de ir trabalhar, chavalo. Nunca percebi a justificação ostensiva disto. Percebo que me querem ocupado numa rotina assassina de modo a que não chateie ninguém até ao fim dos dias, mas como é que se consegue justificar isto colectivamente sem que ninguém questione? Aí está o golpe, ter amigos do SIS leva a “malta” longe. Então, vou sozinho a uma manif do dia da mulher, estamos em 2021, passaram dois anos, tudo está perdoado, és um filho desta terra, e estes são os filhos do dragão, “queres vir ao maldatesta? não tens aparecido”. “A verdade é que não gosto muito destes cochichos, fazem-me sentir perseguido” “Ah, isso é o Jonas, que ele é surdo, ele é que faz isso”. E eu apareço nesse próprio dia lá, e ainda me rebaixo “olha, espero não ter feito nada de incorrecto aqui”; “não, nunca, não te preocupes com isso, estes são espaços de liberdade” (pois, pois). Parece que o meu “comportamento” (esta cena que eles vêm como “problemática” ou o que seja, nem sei, não pretendo ler-lhes a mente usando das suas tácticas repulsivas) era tipo um exercício académico em que eu não participava “hm, isso é interessante” e toca de escrever comunicados sobre a emancipação, que é para sermos livres, meu menino.
E eu pensava que tinha passado o teste, há paz no reino, mas não dura muito, parecia tudo tranquilo em Hemlin e afinal é só ratos, então lá vou eu trabalhar para um restaurante lá para a zona Este. Despedem-me no próprio dia, mas foi giro, ensaiei um número de cabaret. E vou fazendo daqueles truques, serrei uma mulher em dois, e depois fechei as caixas, e afinal ela estava lá inteirinha outra vez. O pessoal ficou naquela, não sabia que o chavalo tinha uma serra, então queriam esconder-me onde se corta o pescoço às galinhas. E aí houve umas semanas pouco duradouras de nem eu sei bem. Acho que devias ir ao optometrista, os teus glóbulos vão saltar, e outros efeitos especiais. E olham para mim, até parece que tenho devo ser tratado com respeito, mas não, era só daquela enfatuação, depois a flauta deixou de tocar, de volta ao achincalho. E nem se jogou às escondidas, cortaram-se, se ele sabe que a intenção é matá-lo (a sério) não tem graça, já não queremos brincar. Vou à Disgraça uma vez, está lá um gringo, deixa-me entrar para o camarim. Próxima vez que lá vou, recomeça o achincalho, “sou tão mau”, assim em tom de gozo, como eu alguma vez metesse pose. Nem percebo bem. Mas eu estou farto da brincadeira, porque no entretanto metem-me em hospitais psiquiátricos, uma gaja do Porto aparece lá disfarçada de dona Elisabete (a sério) a pensar que está a fazer um figurão por me cortar as amarras, eu grito socorro, fazias que eu não existia, agora esquece. Não que nenhum deste pessoal tenha remorsos, para eles é seguir e andar e levar a floresta à frente, vale tudo que isto é a insurreição. Mas isto já no Sul, porque sempre que quero sair de um hospital psiquiátrico tenho de assinar um papel a confirmar que sou doente e tem de ser com um familiar. Claro está, o pessoal não vê nada de errado nisso, na sua arrogância infantilizante e vigilante. Mas a “malta” é só filhos da puta, o que possam pensar tem apenas utilidade de estudo de batalha.
Então passo a aparecer nos espaços esquerdistas, Sirigaitas, Achadas e assim, são inerentemente estúpidos mas ao menos não me fodem a cabeça, posso estar tranquilo, não me chateiam muito, e os mais cotas até não são maus de todo. Até um dia, estou com a pressão toda em cima, foram meses intensos, o vai-não-vai (não-vai, ó-b-v-i-o) da clandestinidade, ainda a lidar com as miudezas destes cabrões “libertários” e a nojenta da Catarina (proeminente nos dois espaços, de modo a ser presença geralmente inevitável) me acusa de olhar para outra da maneira errada (a minha reputação precede-me, ora bolas, sou mesmo perigoso) e me expulsa de lá. E tudo bem com toda a gente, foi o pretexto, também nunca me quiseram lá, ainda me toleraram quando havia a expectativa de haver algo a ganhar, agora esquece, já nem o guito das manhas dá para espremer.
Acho que foi no dia seguinte que tentei suicídio. Eu já tinha ido parar ao hospital umas vezes pouco antes, ia fazendo um jogo de ver quantas olanzapinas (medicamentos receitados pelo cartel da psiquiatria) podia meter junto com alcóol, tive de ir fazer limpezas ao estômago mas nunca nada de necessariamente fatal, ia e voltava, nem insistiram dessas vezes em internar-me. Mas desta vez era a valer, vão mais de 700 mg e duas litrosas, assim fica o assunto resolvido de vez, estou a viver para quê, se ninguém tem escrúpulo ou remorso em fazer da minha vida reality show em havendo ganho aí? Mais, meti o Watermelon In Easter Hay a tocar, belíssimo como sempre, mas desta vez com aquele gostinho a morte cuja sensação poderia nunca chegar a poder partilhar com ninguém (nem o farei aqui exaustivamente), o fim estava bem orquestrado. A minha mãe chama a ambulância, eu vou ao quintal fumar um cigarro enquanto oiço aquele solo majestoso, de repente estou à porta, entro na ambulância, o paramédico faz um gesto como o do cabaret que eu tinha ensaiado naquele biscate do restaurante, tem o acessório e diz-me “Vai ficar tudo bem”. Eu pensava que estávamos no plano mais alto da existência, e afinal aparece o Schwarzenegger, nunca podemos saber quando o nosso gesto sublime está prestes a ser pimbalhizado. Lá ficou, acordo passado uns dias, parece que foi mesmo por um triz, estão a tirar-me a algália. Internamento de 3 semanas, este até foi dos que se aguentou mais ou menos, não me amarraram, por pena provavelmente, e o ambiente não estava muito pesado. Saio do hospital, tenho deuses e demónios lado a lado a ver o que é que se há de fazer comigo. O povo decidiu rápido, no seu tribunal popular: é fazer o cabrão sofrer. E o achincalho público continua, e eu estou frágil como nunca estive. Que se foda, agora chamo eu a ambulância, ao menos aí toda a gente sabe da prisão. Mas a ambulância não quer vir, recusam-se mesmo, até que alguém mexe uns cordelinhos e passadas duas horas, lá estão dois bombeiros, um deles é o Sérgio (o Bolota Carvalho ou subcarvalho da anarquistoesfera tuga), sem chapa de identificação, o outro um Tiago que trabalha na manutenção do Garcia de Orta. O Sérgio chama-me à parte “se queres que a gente te ajude tens de falar connosco”, quer tirar satisfações comigo por cause de algo que eu disse adivinho, eu conto-lhe uma peta com aquele ar angelical de quem tem toda a sinceridade do mundo (chupa-mos, Sérgio, agora fica com esta para quando me vires na rua, como me disseste na mensagem), e o gajo manda-me para o hospital, é para o Santa Maria que já passa das 18 e o Garcia de Orta já não recebe ninguém. Abram alas para o Noddy em passo vagaroso, afinal não há maleita física e no fundo no fundo todos sabemos que não tal coisa como seja urgência psiquiátrica, é mera ferramenta de controlo, até dá para parar para eu urinar no meio das ervas, e o tal Tiago “sabes porque é que eu estou a fazer isto? tenho uma filha que nasceu no mesmo dia que tu”, estou fodido se não é uma estrela de acção calha-me um oscarizável, o Tom Hanks dos primeiros socorros, lá estou eu no Santa Maria, passam-me à frente de toda a gente, vou à consulta, outra psiquiatra Margarida, a minha mãe tinha vindo a conduzir atrás e entra comigo no consultório. Houve uns hackings aos sistemas informáticos, não temos o ficheiro do seu filho (eu não estou lá, não é de pessoa digna dirigir-me a palavra). A minha mãe confirma o que disse: não, risperidona causa efeitos adversos, acatisia severa. Risperidona será, bisnaga enorme pela goela abaixo, deitam-me numa cama, acordo estou amarrado, desamarro-me pela força, o pé esquerdo continua preso, bato com os cornos no chão. Tenho cicatriz ainda na sobrancelha e no nariz à pala disso. As enfermeiras fazem troça geral após a sutura “aquele franganote! hi hi hi!” hilariante.
Seguem-se dois longos meses no Garcia de Orta. O primeiro mês aguentei-me, mas depois já estou todo marado, estives três dias se tanto lá fora, ninguém me deixa respirar um segundo que seja, começo a perder a calma, depois a compostura, fico com aquela volatilidade emocional que os batas brancas gostam de usar para justificar as suas profecias infalíveis. Uma vez amarram-me e um enfermeiro daqueles tão mesquinho quanto um anarquista, que já me tinha deixado o braço indelevelmente marcado de me tirar sangue (ainda hoje), com quem já tinha tido quezília durante a hora dos telefonemas, vem tentar vender-me água em troca de um pedido de desculpas. Assim a lembrar o que me tinham feito no meio libertário. Vai-te foder. Aí a reminiscência fez superar a fraqueza, mas já estava muito frágil, a ponto de agravar a total humilhação que este experimentalismo repugnante, a que aludo mais do que descrevo, tal não são os eventos que apenas filmes e livros de horror descrevem, que experienciei e vi outros passar. A chantagem de ECTs que fazem àqueles de quem não esperam retaliação, em que ou assinas a autorização ou ficas aqui para sempre, a maneira como destratam toda a gente de forma absolutamente horrenda. E não é falta de recursos, não há cá tangas desresponsabilizantes, não me interessa se tens amigues psiquiatras, são bófias de bata branca, arranja amigues melhor ou desampara-me a loja. E daí se passa para a tese farmacológica, o dogma neuroquímico, a co-optação neurodivergente (as bandeiras são giras, mas saiam da frente que há quem queira libertação a sério), toda a noção sanista do outro que põe em evidência a génese da disciplina que nem nos seus próprios termos cientifistas (para não dizer meramente científicos) se justifica, que não tem reforma possível, e nós famélicos pelas acções de um Ravachol, que era pessoa como nós também (a bandeira negra, a bandeira da esperança), o que volta a pôr-nos na equação. Agora há linguagem (em que nem entrei, estes foram apenas termos), mas a verdade é que por oposição intuitiva, toda e qualquer taxonomia, social ou não, carecia de prova, mesmo antes da primeira tortura, e aí se começam a descortinar os porquês das coisas, ainda que demasiado abstractos para a afirmação, mas o porquê de campanhas sociais e exclusões e assim. Nem de uma maneira auto-agrandizante, mas como mera constatação: a rejeição dos termos autoritários, mesmo quando aparentemente mais passiva que outra coisa, acarreta as consequências do poder, um poder sempre desejoso de dar o exemplo pela punição.
Então, saio desses dois meses de tortura, é Julho de 2022, com intenção de começar a fazer algo quanto à situação. Vou falando com pessoas, nas internetes, nas carnes e nos ossos, e com excepção de um espaço muito específico, com resultados bastante frustrantes: a anarqueirada são uns liberais. Querem ver os dois lados e assim. Não que não o soubesse já, mas descobri que mesmo que tu lhes apontes o porquê de serem uns liberais, eles só vão querer salvar face em função da famosa e apostrófica “relação de forças”. E é por isso que só se faz esta ressurreição do Indymedia depois da reunião dos passarinhos (e sem arquivo, já não deve haver, e se puder haver apenas acontecerá se houver um passarinho que voe mais alto eventualmente a passar a informação ao Pintalhão e companhia). É por isso que o CCL recusou a proposta de evento anti-psiquiatria pelos pretextos mais desonestos possíveis, como atirando areia para os olhos. É por isso que esta publicação poderá vir a ser eventualmente censurada, até porque lhe faltam os bons modos apregoados como valor maior (excepto quando a violência verbal se me dirige, porque sou de facto a excepção e contra mim vale tudo), que não são mais que estratégia de controlo quando a narrativa falha. Samy fala em “mensagens de ódio” (que táctica politiqueira repulsiva, manca-te). Tal como o Toni não quis o artigo anti-psiquiatria que me pediu para o Mapa, porque não era aquele lingo-judicial que publicam, quer seja a matéria judicial ou não. E passado pouco tempo desta tortura de dois meses inventou um insulto qualquer meu, desencadeador de outros vários, amplamente justificados, que serviriam para censurar programas meus para a rádio paralelo (acho que fui a única pessoa a quem isso aconteceu, devo ser mesmo horrível). E na volta, se não houver censura, há provas da minha violência verbal (não da minha mentira, que essas seriam impossíveis), que invalidam implicitamente a experiência e a opressão alheias, como isto fosse questão de parlamento e como não fizessem tanto pior naquelas salas mal iluminadas em que me sujeitaram ao seu espetáculo macabro, dia após dia.
Como ténue reconforto, que não me alivia as penas do aqui e agora, mas me dá uma porventura mal direccionada aspiração ao amanhã, tenho a certeza de que os princípios amorais que guiam os poucos de nós sem a pretensão da conduta social sobreviverão muito para além da hipocrisia bem pensante, mesmo aquela que dá pelo nome de libertária, tanto mais por não serem mais que a articulação (e mais importante, a acção) da intuição sensível, do conhecimento nosso e do outro, o leque infinito das possibilidades da vida, as do ímpeto e as da serenidade, numa conjunção sem medida nem equilíbrio (desequilibrado é elogio, então).
Quanto a esta publicação no Indymedia, mesmo tendo em conta as apóstrofes e as nomeações, não se dirige tanto àqueles de quem já nada mais que malevolência espero. Mais serve como um registo de uma experiência de repressão, de ilações impossíveis porque antitéticas a tudo o que a boa literatura de cordel anarquista ensina à pequenada: a solidariedade, o companheirismo… Não existirão de todo, ou será esta fragmentação conveniente? Ou serei eu a excepção, o caso isolado que não merece o ar que respira? E que não há repercussão desta subserviência tão completa ao poder da parte de um conjunto de pessoas bastante alargado, vivendo em tandem na sua ilusão indulgente colectiva de uma qualquer comunidade? Ou algo diferente até?
Quanto a lavares de roupa suja e tal, de facto há mais maledicência nos últimos anos do que alguma vez tive em toda a anterior vida. O que não fazem as influências e as companhias. A alternativa dá longos anos de cadeia.
Não sei, o lápis azul é um grande se. Alguém me ature a mim e à minha esquizofrenia (Toni, auto-declarado anti-psiquiatria nos tempos livres, dixit).
[texto sacado a pronto, se ocorrer mais ou se carecer de uma correcção que já é tarde para ensaiar – ressalva infelizmente necessária para a censura, yada yada yada -, acrescento por via de comentários ou nova publicação]
(Nota, esta é a enésima publicação, o texto já foi censurado várias muitas vezes por motivos inexplicáveis, provavelmente será ainda mais outra daquelas práticas que o pessoal acha muito bem, assobia para o lado e deixa andar. Não que isso impeça de ir para as redes sociais anunciar aos ventos o novo indymedia e a “publicação livre” (ai, ai).
A intenção é ir republicando perante novas censuras, com este comentário novamente adjacente a fazer fé dos bloqueios. )
– Escrito em Samara, na Rússia

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