As MANAS – Grupo de apoio mútuo para mulheres sobreviventes a múltiplas violências, e GAT IN Mouraria, centro de base comunitária do GAT direcionado para a população que usa drogas, organizaram a conferência “Nós, Mulheres que Usamos Drogas, Existimos!”, incluída na campanha internacional #UNITE pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. Cumpriu-se o propósito de trazer as mulheres que usam drogas para o centro da discussão académica, política e comunitária.
Cerca de 90 pessoas apoiaram as reivindicações das MANAS na conferência que teve lugar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, numa sala repleta de diversidade, incluindo especialistas, mulheres que usam drogas, mulheres trans, mulheres racializadas e mulheres em situação de sem-abrigo que estiveram presentes no debate.
As mulheres que usam drogas presentes denunciaram as múltiplas violências de que são alvo, incluindo a violência no sistema de cuidados de saúde, a violência institucional e a violência baseada no género.
“Defendemos espaços mais seguros para mulheres que usam drogas, incluídos numa estratégia nacional para salas de consumo de drogas, abrigos onde mulheres que usam drogas são bem-vindas, espaços mais seguros para pessoas trans terem acesso à terapia hormonal e garantir o respeito pela guarda dos filhos” afirma Joana Canêdo, voluntária do GAT e ativista por políticas de drogas mais dignas e humanas.
Três meses depois do fim do financiamento da Câmara Municipal de Lisboa ao projeto Intendente Insurgente, que juntou As Insurgentes Revoltadas – Associação e as MANAS do GAT para a capacitação de mulheres em situação de múltiplas vulnerabilidades que vivem ou trabalham nos Anjos, a falta de financiamento foi uma das principais barreiras apontadas para a implementação de políticas de drogas inovadoras.
Especialistas e comunidade reconheceram as múltiplas vulnerabilidades das mulheres que usam drogas, bem como a necessidade de apoiar a participação política ativa ao assegurar uma viragem do pensamento dominante da invisibilidade para uma participação financiada das mulheres que usam drogas.
“O assistencialismo por si só já não nos cabe mais, as respostas lideradas pelos pares devem estar no centro das respostas lideradas pela comunidade a estas múltiplas vulnerabilidades”, reivindica Joana Canêdo, e acrescenta: “As mulheres que usam drogas não são sujeitos passivos na política e nos planos de ação, também fazem parte da resposta”.
O evento contou com a participação e presença da Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (DICAD), do Centro Europeu de Monitorização para as Drogas e Comportamentos Aditivos (EMCDDA), da Rede Europeia de Pessoas que Usam Drogas (EuroNPUD), do Instituto da Segurança Social, da Kosmicare, das Vozes de Dentro, do Intendente Insurgente, Consulta Divergente, Unidade de Alcoologia (UAL) e dos serviços GAT Intendente e GAT Par a Par. Rosário Costa, que discursou no Parlamento Europeu sobre trabalho sexual, apresentou as soluções que o GAT IN Mouraria tem vindo a implementar como resposta às reivindicações das mulheres que usam drogas.