A 11 de Setembro de 2024, o Grupo de Ação Conjunta Contra o Racismo e a Xenofobia, perante os acontecimentos das últimas semanas, a nível nacional e internacional, e com uma manifestação neonazi marcada para 5 de Outubro em Guimarães, enviou uma carta aberta subscrita por 1298 pessoas e 105 organizações, chamando a atenção para a necessidade urgente de serem tomadas medidas por parte dos responsáveis de várias esferas políticas e de justiça.
https://www.antiracismo.org/carta-aberta-setembro-2024
Vimos há dias, no Reino Unido, como o ódio é um rastilho para bandos armados, violentos, destruírem, humilharem, intimidarem, desumanizarem pessoas que se encontrem em territórios cuja pertença não seja reconhecida como legítima.
Vimos como funciona o rastilho do ódio racista e xenófobo, espalhando informações falsas, medos infundados com histórias de violações, raptos, assaltos, crimes praticados por pessoas imigrantes, apelando à “perceção de insegurança”, sem qualquer correspondência com as informações relativas à segurança interna.
Temos visto como funciona o ódio nas mãos de gente sem escrúpulos, agindo em bando, como pode ser perigoso e mortal. Temos visto também as multidões que vieram para a rua apoiar, resistir, dizendo que as suas cidades recusam embarcar nesta violência contra imigrantes. São pessoas que defendem uma sociedade em que a vida de cada pessoa importa, independentemente da sua origem étnica, geográfica, cor da pele ou a quem confiam as suas orações.
As pessoas e organizações signatárias desta carta consideram urgente clarificar o posicionamento público e institucional sobre a imigração em Portugal. É ou não indispensável, para a sociedade portuguesa, promover uma melhor e universal educação pública, habitação acessível,transportes com mais qualidade, um sistema de saúde de qualidade, que sirva para todas as comunidades imigrantes, em condições de igualdade em relação à população portuguesa?
Consideramos que este é o único caminho para salvar as sociedades onde o racismo e xenofobia estruturais, ameaçam a sua própria sobrevivência. Não sabermos acolher quem escolhe Portugal como lar, como lugar para trabalhar, irá condenar o nosso país a ser um destino onde as pessoas são exploradas e vítimas de criminalidade violenta. Ainda estamos a tempo de fazer melhor!
Os grupos extremistas que operam na sombra do partido político de extrema-direita português, com representação parlamentar, Grupo 1143, Habeas Corpus, Reconquista, entre outros, são compostos por elementos suficientes para desencadear o ódio racista, xenófobo, islamofóbico, num terreno fértil, num país onde os valores da Revolução do 25 de
Abril não são defendidos por toda a gente. Passaram 50 anos, saudosistas do antigo regime recuperam o que muita gente pensava fazer parte do passado. É urgente agir!
Estes grupos são responsáveis pela disseminação de ódio contra comunidades mais vulneráveis aos ataques da extrema-direita, ameaçando, invadindo e agredindo pessoas em apresentações públicas ligadas aos direitos e identidades de género, às questões LGBTQI+, o que é absolutamente inaceitável num Estado de Direito.
O Grupo 1143 está a planear uma ação em Guimarães, no dia 5 de outubro, apelando a nacionalismos, fundados no ódio às pessoas imigrantes, defendendo uma “portugalidade branca e limpa”, ameaçando e intimidando ativistas antirracistas locais e imigrantes que são comerciantes com lojas abertas ao público.
A conta do grupo 1143 foi suspensa há pouco tempo no YouTube por força de denúncia de um trabalho de investigação do jornal americano The New York Times sobre racismo e conteúdos online que estimulam a violência. O jornal interpelou outras redes sociais que começaram a assumir as suas responsabilidades para travar o discurso de ódio, encontrando-se bloqueado em algumas plataformas. Qual tem sido o papel das autoridades portuguesas? Porque foi preciso um jornal americano fazer o que há muito devia ter sido feito?
Quando sabemos da suspensão da conta do Grupo 1143, tomamos conhecimento que o partido político de extrema-direita, Chega, convocou uma manifestação para o dia 21 de setembro, sob o mote “não à imigração descontrolada”, associando abusivamente imigração a criminalidade, incitando ao ódio, semeando medos e divisões, baseando-se em mentiras que servem para alimentar o ódio racista, xenófobo e islamofóbico. Esta ação é apenas a validação, pelo partido político Chega, da ação criminosa dos grupos inorgânicos acima mencionados! Tais grupos já se congratularam com a iniciativa, assumindo a sua importância e influência junto do partido político que tem crescido justamente com a mesma bandeira de ódio racista e xenófobo contra imigrantes.
O Estado português terá que explicar ao Comité de peritos da ONU, que acompanha a implementação da Convenção Internacional Para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, como é que permitiu que manifestações contra comunidades racializadas pudessem ter lugar, à revelia da Constituição da República Portuguesa e da Lei Penal aplicável em Portugal.
Outras instituições internacionais estão atentas e observam a inércia das entidades, com obrigações em diversas áreas, em agir e impedir a contaminação do ódio racista, xenófobo e islamofóbico.
Cada entidade destinatária desta carta deverá assumir as suas responsabilidades para travar a escalada de violência em curso.
Cada entidade destinatária desta carta deverá reafirmar Portugal como lugar de liberdade e solidariedade, onde os direitos mais elementares da pessoa humana são respeitados.
Cada pessoa e organização signatária desta carta afirma que não aceita, não compactua e recusa o silêncio e inércia das instituições portuguesas sobre a escalada de violência racista, xenófoba e islamofóbica contra as comunidades imigrantes!
Setembro de 2024, pelo Grupo de Ação Conjunta contra o Racismo e Xenofobia Os coletivos signatários:
1. Rede 8M Guimarães
2. Academia Cidadã
3. AGRRIN – Corpos Geradores
4. Amigues da Palestina
5. AMPLOS
6. Associação Africandé
7. Associação Cavaleiros de São Brás
8. Associação cultural goela
9. Associação ILGA Portugal
10. Associação Integrar Diligente
11. Associação monte da amOrada
12. Associação Mural Sonoro
13. Associação P de Potência
14. Associação Renovar a Mouraria
15. Associação TransParadise
16. Atelier do Corvo
17. Aveiro Feminista
18. Braga Fora do Armário
19. CAAA Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura de Guimarães 20. Círculo deartes Plásticas de Coimbra
21. CIVITAS Braga
22. Climáximo
23. Clube Safo
24. Colectivo Gaio
25. Colectivo Gato Aleatório
26. Colectivo pela Libertação da Palestina
27. Coletivo Alvito
28. Coletivo Andorinha
29. Coletivo Dôia Sequeira
30. Coletivo InterStruct
31. Coletivo Salitre
32. Comité de Solidariedade com a Palestina
33. Comitê Popular de Mulheres em Portugal
34. Consciência negra
35. Coop99- cooperativa integral do Porto, crl.
36. Cooperative Bandim
37. Cor do Luar
38. dezanove.pt
39. DJASS- Associação de Afrodescendentes
40. Espaço Escuta Ativa – saúde mental anti-autoritária
41. esQrever
42. Estudantes pela Palestina – U. Minho
43. Frente Anti-Racista
44. GARA – Núcleo de Coimbra
45. GARA – Santa Maria da Feira
46. GARA Sintra
47. GaraValongo
48. Graal
49. Greve Climática Estudantil
50. Grupo de Ação Revolucionária Antifascista – Núcleo Nacional 51. GTO LX
52. Guimarães Drag Fest
53. Guimarães LGBTQIA+
54. Guimarães pela Liberdade
55. Guimarães pela Palestina
56. Habitação Hoje
57. Headbangers Antifascistas
58. HeForShe Coimbra
59. Humanity Summit
60. ICE – Instituto das Comunidades Educativas
61. Kilombo – Plataforma de Intervenção Anti-Racista
62. Letras Nómadas Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas
63. LGBTi Viseu
64. Livraria das Insurgentes
65. Locomotivo 14
66. MAH – Migration Against Hate
67. MAR – Movimento Anti-Racista
68. Marcha do Orgulho de Guimarães
69. Marcha Orgulho Santarém
70. Movimento Virgínia Moura
71. Mulheres Negras Escurecidas
72. NSF-Notícias Sem Fronteiras
73. Núcleo Antifascista de Barcelos
74. Núcleo Antifascista de Bragança
75. Núcleo Antifascista de Guimarães
76. Núcleo Antifascista de São Miguel – Açores
77. Núcleo Antifascista do Porto
78. O Lado Negro da Força
79. Opus Diversidades
80. OutCiências – Núcleo LGBT+ da FCUL
81. Parents for Peace
82. Plataforma Artigo 65.º
83. Plataforma Geni
84. Plataforma TransParente
85. Porto Inclusive
86. Quilombo Porto
87. Rádio Paralelo
88. Rede 8 de Março
89. Rede Afrolink
90. Rede de Apoio Mútuo – Braga
91. República Baco
92. República do Kuarenta
93. Ribaltambição-Associação para a igualdade de género nas comunidades ciganas 94. Rota do Guadiana-ADI
95. Saber Compreender
96. SaMaNe – Associação Saúde das Mães Negras e Racializadas em Portugal 97. Solidariedade Imigrante-Associação para a defesa dos direitos dos imigrantes 98. SOS RACISMO
99. STOP Manifesta
100. The revolution will not happen on your screen
101. Todo Mundo Slam
102. Unidade Popular pelo Socialismo
103. VOE – Veganismo de Oposição à Exploração
104. Vozes no Mundo – Frente pela Democracia no Brasil
105. Zona Franca nos Anjos
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