No ano em que a sociedade civil, o Estado e as instituições se têm envolvido na comemoração dos 50 anos da democracia portuguesa, continua a ser fundamental o combate aos discursos de ódio.
No próximo dia 29, Lisboa vai acolher uma manifestação nacional sob o lema da ‘imigração descontrolada’ e da ‘insegurança’. Os cartazes de divulgação apresentam uma pessoa em trajes muçulmanos e dizem-se contra a imigração. O percurso anunciado é pela avenida que, nesta cidade, concentra o maior número de população migrante e muçulmana.
O percurso da manifestação convocada pelo Chega, a que aderiram grupos neonazis sob investigação das autoridades, preocupa-nos. Mas preocupam-nos também as horas seguintes, em que estes militantes anti imigração e islamofóbicos tradicionalmente se dedicam a atos de ‘caça ao imigrante’ que, num passado muito recente, tiveram consequências que envergonham a nossa democracia.
O discurso oficial do governo e das câmaras municipais tem contrariado as notícias falsas difundidas pelos grupos de extrema direita e pelos representantes do partido Chega que convoca a manifestação: NÃO há relação entre o aumento de imigrantes e o aumento da criminalidade, até porque esta tem diminuído.
Mas quem tem poder para atuar não pode ficar pelas palavras. Tem de atuar, porque o discurso de ódio dos apoiantes da manifestação que vai passar ao lado de comunidades pacíficas tem-se traduzido, cada vez mais, em ações violentas com consequências graves.
Todos conhecemos as notícias de ataques a imigrantes, as proclamações de ódio que as sustentam, e de como os agressores se vangloriam de ser guardiães da nacionalidade.
Somos um grupo de coletivos/organizações preocupadas com a segurança de todxs xs imigrantes que, no dia 29, possam ser alvo daqueles que já dizem que em Portugal também há imigrantes a comer animais de estimação.
Portugal sempre foi um país de emigrantes e, no seu discurso oficial, orgulha-se de saber acolher os imigrantes que recebe. Mas Portugal tem também um deputado que já mandou para a sua terra uma colega deputada negra e dirigiu palavras racistas a um primeiro ministro de origem goesa.
A maioria das pessoas que participarão da manifestação não são políticas, apenas cidadãs cuja vida é influenciada pelas políticas e leis de imigração que existem. Temos assistido a como a adesão a uma retórica securitária que incita à criminalização da migração promovida pelas políticas migratórias da UE tem responsabilidade no discurso de ódio anti-imigrantes e de violência. Saibamos fazer diferente. Saibamos fazer de acordo com o que se começou a construir há 50 anos.
Senhores Presidente da República, Ministro da Administração Interna, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Comissário Nacional da PSP, Provedora de Justiça, Presidente e Deputados da Assembleia da República:
Não podeis apenas dizer que os imigrantes não contribuem para a criminalidade e apresentar condolências quando algum deles é morto em ataques de ódio. É vossa responsabilidade garantir as condições para que não sejam possíveis ameaças e violências!
Cozinha Migrante dos Anjos
À Mesa – Cantina Social Itenerante de Lisboa
Afrolis
Casa do Brasil
EJP (Estudantes por Justiça na Palestina da FCSH)
Habita – Associação pelo direito à Habitação e à Cidade
HuBB – Humans Before Borders
Mulheres Negras Escurecidas
NEANTRO (Núcleo de Estudantes de Antropologia da FCSH)
NÃO PASSARÃO
Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGay Transfobia
Rede de Apoio Mútuo-Lisboa
Sirigaita – Centro Comunitário
Solidariedade Imigrante -Associação para a defesa dos direitos dos Imigrantes
SOS Racismo
Stop Despejos
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