R. estava presa na prisão feminina de Santa Cruz do Bispo e, após ser acusada de agredir uma colega de cela, foi colocada na ala de segurança máxima desta prisão. Após ser isolada na cela disciplinar, foi acusada de agredir dois guardas e transferida para a secção de segurança na prisão feminina de Tires. Nas prisões e secções de segurança máxima, as condições desumanas tornam quase impossível qualquer agressão a guardas, mas a narrativa mediática apenas reproduziu as versões institucionais, silenciando a voz de R.
R., na segunda-feira 3 de novembro, terá posto fogo à sua cela. Por que ela fez isso? Por um ato de rebelião contra uma situação insuportável? Por um ato de resistência a uma vida passada na tortura da prisão? Para se defender de uma situação que a ameaçava? Todas as notícias que lemos não relatam os seus pensamentos e a sua versão dos factos, nem tão pouco o estado de saúde física e psicológica de R., mas apenas as declarações de guardas.
O presidente do Sindicato Nacional dos Guardas Prisionais defendeu publicamente a transferência de R. para a prisão masculina de alta segurança de Monsanto, expondo a transfobia e o punitivismo que marcam o sistema prisional. Para justificar a transferência para esta prisão, o sindicato manipulou factos e espalhou falsas informações, retratando R. como uma ameaça e insinuando que a transição de identidade de género terá sido uma estratégia para ser transferida para uma prisão feminina, e que agora queria mudar novamente, o que estava junto de crianças na casa das mães em Tires.
Como é possível que uma só mulher provoque tanto medo a um corpo inteiro de guardas prisionais? Que poder é este que o sistema projeta sobre uma mulher trans para justificar a sua própria violência?
O sindicato das guardas usou o incêndio para pressionar a DGRSP, ameaçando greve até que fosse autorizada a transferência de R. para Monsanto. A DGRSP cedeu, violando leis que garantem o respeito pela identidade de género das pessoas presas.
Desde que o sistema prisional português passou a reconhecer pessoas trans e a aplicar a lei que determina a sua colocação segundo a identidade de género, multiplicam-se notícias falsas e discursos que diabolizam, sobretudo, mulheres trans presas, negando as suas identidades e corpos.
Denunciamos esta transferência e a tortura a que R. está sujeita como expressão brutal da transfobia e da repressão patriarcal e desumanizante do sistema prisional.
Toda a nossa solidariedade e apoio para a R. !
Abaixo os muros de todas as prisões! Nota: decidimos usar apenas a inicial do nome da nossa irmã por respeito à sua privacidade, em oposição à escolha desumana dos jornalistas de revelar a sua identidade atual e passada, incluindo a sua foto.
via: Vozes de Dentro
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