“No Pride In Genocide”

Sobre as ligações do EuroPride 2025 e seus organizadores ao pinkwashing do apartheid israelita.

Lisboa deverá receber, em junho, o EuroPride 2025, o maior evento LGBTI+ da Europa. Contudo, o afastamento de todas as associações promotoras iniciais com exceção da Variações, a nomeação de Diogo Vieira da Silva como “comissário municipal” para o evento ou a investigação criminal sobre o mesmo, revelada no programa “Prova dos factos” da RTP, são motivo de apreensão na comunidade e entre quem luta pelos direitos LGBTI+ em Portugal.

A controversa nomeação de Diogo Vieira da Silva para comissário do evento não é inocente nem acidental.

Diogo Vieira da Silva fundou a Variações (Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal) em 2018, da qual foi diretor executivo e presidente até ser destituído em janeiro de 2024, após denúncias de corrupção e outras controvérsias envolvendo a sua conduta.

Vieira da Silva foi também chefe de imprensa da Embaixada de Israel em Lisboa. A acumulação de cargos na Variações e na embaixada israelita permitiram-lhe aproximar as duas entidades, sendo disso exemplo a realização da “Israeli Pride Party” no Finalmente Club em Lisboa, a 7 de junho de 2023, organizada por ambas.

Na altura e à porta do evento, denunciámos o pinkwashing do estado israelita. A nossa ação, pacífica, foi considerada por Vieira da Silva “um ataque” e originou um voto de solidariedade na Assembleia Municipal de Lisboa (18 de julho de 2023), proposto pelo grupo municipal do PSD de Carlos Moedas, e à apresentação de uma queixa-crime junto do Ministério Público pelo neonazi Mário Machado, acusando os manifestantes de homofobia e antissemitismo. O mesmo Mário Machado que, agora, organiza uma “Marcha do Orgulho Heterosexual” para junho, em protesto contra o EuroPride.

O pinkwashing é, de resto, uma das prioridades da propaganda israelita, como se pôde constatar na tentativa de infiltração na Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa em 2022 e no injurioso artigo de opinião publicado no Público pelo embaixador israelita em Lisboa a propósito desse incidente. 

Após o afastamento de Vieira da Silva, a presidência da Variações passou para José Marquina, proprietário do Finalmente Club, onde teve lugar a “Israeli Pride Party”. Questionado sobre a duvidosa gestão dos fundos públicos destinados à promoção do EuroPride, Marquina preferiu ofender o jornalista, acusando-o de “fascista e retrógrado”.

Já Carlos Moedas, quando questionado sobre a nomeação de Vieira da Silva, procurou ilibar-se, reencaminhando para Diogo Moura a responsabilidade política desta escolha.

Diogo Moura (então presidente da concelhia de Lisboa do CDS/PP) foi, em 2020, um dos membros fundadores da ALPI (Associação Lusa Portugueses por Israel), um grupo de lobby sionista, permanecendo nos seus órgãos sociais até 2023.

Carlos Moedas, eleito presidente da CML, nomeia Diogo Moura para vereador da cultura (entretanto afastado por alegações de fraude eleitoral e recém regressado), função que passou a acumular com a de dirigente da ALPI, promovendo a promiscuidade entre as duas e o estreitar de laços entre o Município de Lisboa e o Estado de Israel. 

Também ao participar na festa de despedida do embaixador israelita Dor Shapira (julho 2024), Carlos Moedas manifestou o seu apoio pessoal e político à ocupação e ao genocídio.

Todos estes atores têm um historial que não esquecemos. Não aceitaremos por isso que o EuroPride 2025 se transforme em mais uma plataforma de pinkwashing político e rejeitamos qualquer tentativa de branqueamento ou normalização com quem pratica violações de direitos humanos.

Repudiamos a cada vez mais evidente cooptação do EuroPride 2025 por parte de pessoas cuja agenda está longe de ter como prioridade a defesa dos direitos LGBTI+ ou dos direitos humanos, em particular quando estes dizem respeito ao povo palestiniano.

Perante todas estas polémicas, o silêncio de todos os envolvidos só tem contribuído para o descrédito do evento e das organizações envolvidas. Exigimos respostas.

À organização do EuroPride 2025, exigimos um compromisso inequívoco de que o evento não servirá para branquear violações de direitos humanos nem crimes contra a humanidade, quem os comete ou quem com eles compactua.

Os direitos humanos são universais e indivisíveis. 

Os movimentos LGBTI+ em Portugal têm sido claros no enquadramento da sua luta na defesa dos direitos humanos e contra todas as suas violações e opressões. A ocupação e o genocídio na Palestina não são exceção.

Reiteramos por isso que “o nosso orgulho são os direitos humanos”!

Março de 2025

Subscrevem*:

Ação Pela Identidade – API

Algarve pela Palestina

Associação Cultural Mina

Braga Fora do Armário

CIVITAS Braga

Climáximo

Coimbra pela Palestina

Coletivo pela Libertação da Palestina

Comité de Solidariedade com a Palestina

Curvs

Estudantes do IPP pela Palestina

Estudantes do Porto em Defesa da Palestina

Estudantes pela Palestina ISCTE

Estudantes pela Palestina U. Minho

Estudantes por Justiça na Palestina FCSH 

Gentopia – Associação para a Diversidade e Igualdade de Género

Greve Climática Estudantil 

Health Workers for Palestine – Portugal

Humans Before Borders (HuBB) 

Inquieta-te FCSH

Judeus pela Paz e Justiça

Livraria das Insurgentes

Marcha do Orgulho do Porto (MOP)

Marcha do Orgulho LGBTQIAP+ de Santarém

Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM)

Núcleo da Olho Vivo de Viseu

Opus Diversidades

Palestina Livre Ilha Terceira

Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGayTransfobia

Parents for Peace

Planeta Manas

Plataforma Anti-Transfobia e Homofobia de Coimbra

Plataforma Já Marchavas (Viseu)

Plataforma Unitária de Solidariedade com a Palestina (PUSP) 

Queer IST

Rede 8 de Março

Rede Afrolink

República do Kuarenta

Sintra Friendly – Colectivo Juvenil LGBTIQA+ de Sintra e Apoiantes

SOS Racismo

STOP Despejos

UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta

*lista de subscritores atualizada a 6 de março de 2025

Comentários

Um comentário a ““No Pride In Genocide”

  1. A

    Muito bem! Agora olhando para a lista de subscritores, faz falta um manifesto de repúdio à co-optação de todos os movimentos pela fraude interseccional

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