A apresentação do livro “No Meu Bairro”, de Lúcia Vicente e com ilustração de Tiago M, que é o primeiro livro infanto-juvenil a ser editado com o sistema de lingugem neutra ELU em Portugal foi ontem, dia 23, atacada por um grupo de 10 homens machistas e queerfobicos. O grupo tinha estado durante a sessão, mas a certo ponto, mais três entraram com um megafone e iniciaram um ato de censura e ataque à apresentação, tentando que esta terminasse e mandando calar as pessoas presentes com insultos machistas e homofóbicos.
Os fascistas levavam t-shirts com imagens de mulheres nuas. O que foi denunciado pelas pessoas presentes.
Lúcia Vicente, autora do livro, diz que esta foi uma tentativa de censura de uma parte da sociedade que “se recusa a aceitar que outros são livres”.
A Polícia foi chamada ao local, mas aparentemente pouco fez para impedir a continuação do ataque, pelo menos, não atuou contra o grupo de fascistas. Foram identificados mas não foram travados. Podemos ver nos videos um dos polícias a observar passivamente a discussão. Os presentes começaram a ler em voz alta enquanto um dos atacantes continuava a gritar ao megafone protegido por aquilo que parecem ser um grupo de seguranças pessoais.
A autora Lúcia Vicente pondera a possibilidade de apresentar uma queixa junto do Ministério Público, após o incidente que classificou como uma ação de censura pura. Esta decisão está a ser discutida em conjunto com o ilustrador Tiago M e a editora. O evento ocorreu na sexta-feira à tarde, e a Penguin Random House, grupo editorial responsável pelo lançamento do livro, denunciou-o como uma séria ameaça à liberdade de expressão. Em comunicado, a editora descreveu um protesto intimidatório, onde manifestantes, munidos de megafones, tentaram silenciar as vozes da autora e das apresentadoras, confrontando diretamente o público presente.
Entretanto nas redes sociais centenas de pessoas começaram a partilhar imagens do livro e iniciaram uma campanha para tentar esgotar rapidamente o livro, lançado a 11 de setembro, para demonstrar o seu apoio.
Lúcia Vicente revelou que estava relativamente preparada para a situação, uma vez que desde o anúncio do lançamento do livro, houve reações adversas. Oseu livro, intitulado “No Meu Bairro,” junta 12 pequenas histórias de ficção em verso, protagonizadas por crianças que abordam questões como racismo, identidade de gênero, religião, bullying e ativismo. Entre as histórias, destacam-se personagens como “Beatriz, a cigana feliz,” “Magalhães, o menino que tinha duas mães,” e Rodrigo, que “quer ir comprar um vestido.” Nas redes sociais, a autora foi alvo de mensagens de ódio e insultos, mas mesmo diante da adversidade, Lúcia Vicente está determinada em continuar a usar a linguagem inclusiva e a enfrentar as críticas, considerando importante dar o primeiro passo na promoção de discussões necessárias sobre diversidade e igualdade.
“Estou, mais uma vez, a usar o privilégio que tenho para poder contribuir para alguma mudança positiva na nossa sociedade. Para algumas pessoas. Com certeza que há quem ache que este livro é um disparate, mas paciência. Se mudar a vida de um casal lésbico ou de uma criança, o meu trabalho já está feito.”
Lúcia Vicente
A autora Lúcia Vicente, conhecida por abordar questões sociais nos seus livros, lançou “No Meu Bairro,” um livro infanto-juvenil que utiliza uma linguagem neutra. Este é o primeiro livro desse estilo em Portugal e representa um esforço para incluir um elemento gramatical neutro no português. Com ilustrações de Tiago M., o livro explora as vidas e questionamentos de 12 crianças, abordando temas de diversidade, inclusão e igualdade. Desde a história de Maria Miguel, uma criança não-binária, até Amir, um rapaz com vitiligo, o livro apresenta diversas vozes através da poesia.
Lúcia Vicente, defensora da “educação para os feminismos,” acredita firmemente na importância da linguagem inclusiva para refletir a diversidade de todas as pessoas. Ela argumenta que a introdução de mudanças linguísticas que reconheçam a pluralidade de géneros é fundamental para garantir a igualdade e representatividade. Lúcia Vicente também enfatiza que, embora a linguagem neutra possa parecer estranha para alguns, a sua normalização é crucial para as gerações futuras. O seu livro desafia noções binárias de gênero e promove a aceitação da diversidade desde cedo, na esperança de inspirar crianças e adultos a compreenderem que “está tudo ok” em ser quem são.
Este livro não é apenas uma obra de ficção, mas um veículo para debates sobre questões sensíveis, desde identidade de género até diálogo intercultural. Lúcia Vicente acredita que a sua obra é um ponto de partida para discussões que exigem maior sensibilidade e compreensão, e sua contribuição para uma mudança positiva na sociedade. Ela destaca a importância de acolher a diversidade que nos cerca e encoraja a todos a “ter mundo,” ou seja, a abraçar a pluralidade que enriquece a nossa sociedade. “No Meu Bairro” está disponível nas livrarias, contribuindo para uma narrativa mais inclusiva e igualitária em Portugal.
𝗖𝗼𝗺𝘂𝗻𝗶𝗰𝗮𝗱𝗼 𝗣𝗲𝗻𝗴𝘂𝗶𝗻 𝗥𝗮𝗻𝗱𝗼𝗺 𝗛𝗼𝘂𝘀𝗲 𝗚𝗿𝘂𝗽𝗼 𝗘𝗱𝗶𝘁𝗼𝗿𝗶𝗮𝗹
Na tarde de ontem, um livro que publicámos, dois autores e uma livraria da cidade de Lisboa foram alvos de uma ameaça à liberdade de expressão. Na apresentação pública do livro “No meu bairro”, escrito por Lúcia Vicente e ilustrado por Tiago M., irrompeu na livraria um protesto intimidatório, de megafone na mão, tentando silenciar as vozes da autora e das apresentadoras, e confrontando diretamente o público que assistia.
Manifestamos a nossa total solidariedade para com a autora e o ilustrador, as apresentadoras do livro, as nossas colegas da editora que estavam presentes, a livraria que nos acolheu e todas as pessoas que foram pacificamente assistir à apresentação do livro e ao importante debate em torno da diferença, da diversidade e da equidade que este pretende promover.No Penguin Random House Grupo Editorial move-nos a missão de despertar a paixão pela leitura através da publicação de livros que reflitam a diversidade da sociedade plural em que vivemos. Em tempos de crescente polarização política, em que as questões relacionadas com a equidade estão no centro do debate público, o nosso propósito de difundir uma gama alargada de vozes e pontos de vista é absolutamente necessário.
Defendemos o direito dos nossos autores de expressarem as suas ideias e criarem as suas obras sem qualquer tipo de coerção, e de contribuírem para o debate cultural e social. Assumimos a nossa responsabilidade de apoiar sem reservas os grupos de autores e leitores menos representados na comunidade, assumindo as controvérsias que daqui possam decorrer. Repudiamos quaisquer movimentos que atentem contra a liberdade de expressão e de edição.
Acreditamos que os livros têm o poder de suscitar o debate, de fortalecer o diálogo e a coesão social, de mudar e enriquecer os leitores, e de contribuir de forma decisiva para criar um futuro melhor para as novas gerações. E mantemo-nos sempre firmes nesse propósito.
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