PONTOS-CHAVE
A Turquia ataca 18 diferentes infra-estruturas civís com 32 ataques aéreos no dia de Natal, incluindo uma bomba de gasolina, fábricas de materiais de construção, alimentos e produtos agrícolas, uma tipografia, silos de cereais e um moinho (ver lista completa de locais no final) – os líderes políticos e militares do Norte-Este da Síria (NES) afirmam que isto constitui um crime de guerra.
Isto acontece menos de 3 meses depois de uma campanha de 5 dias de ataques aéreos turcos ter destruído as infra-estruturas eléctricas do NES, cortando a eletricidade e a água a mais de 1 milhão de pessoas.
Os ataques da Turquia mataram 8 civís e feriram 11 – o número de mortos pode aumentar, uma vez que algumas pessoas ficaram gravemente feridas.
As principais cidades do NES registam manifestações de protesto contra os ataques da Turquia.
O ‘Rojava Information Center’ (RIC) está disponível para fornecer comentários no terreno, além de fotografias e vídeos dos locais dos ataques afetados e contactos com representantes políticos e de organizações humanitárias para comentários.
CONTEXTO
A campanha de ataques aéreos da Turquia contra o NES está em curso desde a invasão de 2019, tendo matado centenas de civís até à data.
No início de outubro, a Turquia iniciou um ataque aéreo de 5 dias, atingindo sistematicamente as instalações de eletricidade, gás e petróleo do NES, causando extensos danos infra-estruturais e económicos e agravando a já frágil situação humanitária no NES, tal como relatado pela RIC.
A 23 de dezembro, nas montanhas da Região do Curdistão do Iraque (KRI), os militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) conduziram operações contra posições das Forças Armadas Turcas (TAF), matando pelo menos 12 soldados turcos; o Presidente turco Erdogan referiu-se aos ataques como “terroristas” e prometeu vingança; na noite do dia 23, a TAF atacou infra-estruturas petrolíferas e de gás em NES, cortando a energia das subestações eléctricas que serviam metade do cantão de Jazira e ferindo um civil; o Ministério da Defesa turco anunciou que estes ataques aéreos eram “contra alvos terroristas” para efeitos de “segurança das fronteiras”.
Dois dias mais tarde – no dia de Natal – a Turquia levou a cabo uma intensa série de ataques aéreos, das 10:00 às 21:00 horas locais, concentrados sobretudo na cidade de Qamishlo, mas incluindo também as cidades de Amude, Kobane e Tirbespi, visando sistematicamente as infra-estruturas civis mais essenciais, desta vez atingindo fábricas de materiais de construção, produtos agrícolas e alimentares, bem como silos de cereais, um moinho, instalações industriais, um centro de diálise e uma estação de serviço.
Os líderes políticos e militares do NES há muito que sublinham que as instituições políticas e militares do NES não estão ligadas ao PKK – ao contrário do que afirma a Turquia – e acusam agora a Turquia de “exportar as suas crises internas” e de efetuar ataques aéreos para criar deliberadamente instabilidade e atingir a DAANES.
ÚLTIMOS ATAQUES
- 18 locais confirmados – todos civís – atingidos no dia de Natal, para além dos 4 locais afectados 2 dias antes.
- A Turquia atacou muitos destes locais mais do que uma vez durante o dia 25.
- Os ataques aéreos turcos mataram um total de 8 civís – Berivan Mihemed, Riyad Hemo, Fares al-Fares, Ferhan Teme, Hussein Ehmed, Renas Hussein, Ferhan Khelef e Aya al-Sabawi – e feriram 11, para além do 1 ferido no dia 23.
- O Exército Nacional Sírio (SNA), apoiado pela Turquia, intensificou os seus bombardeamentos ao longo das linhas de contacto que separam a região administrada pela DAANES das zonas ocupadas pela Turquia, atingindo aldeias em torno de Shehba e Manbij Industrial de Meshtanou, Kobane, 25.12.2023.
DECLARAÇÃO
No dia 25, a DAANES declarou que “estas instituições visadas – tal como no início de outubro deste ano – prestam serviços e satisfazem as necessidades humanitárias da população, bem como aliviam o fardo causado pelo embargo e pela guerra na região”, acrescentando que “nós, a Administração Democrática Autónoma do Norte e Leste da Síria, condenamos estes ataques e a opressão do Estado turco e o facto de visarem instituições civis e de serviços no Norte e Leste da Síria. Confirmamos que estes ataques aumentam as dificuldades humanitárias e económicas e ameaçam o trabalho de manutenção da paz e de luta contra o terrorismo. Apelamos à ONU e às organizações jurídicas e humanitárias competentes para que tomem uma posição clara contra estes ataques que ameaçam a paz e a unidade de milhões de pessoas que vivem em condições difíceis.”
“Alem disso, apelamos à Coligação Internacional para que tome uma posição clara e aberta contra estes ataques, para que estas agressões terminem. Apelamos ao Governo de Damasco e a todos os partidos para que protejam a unidade da Síria, para que tomem uma posição contra estes ataques – que são contra toda a Síria e a geografia do Norte e Leste da Síria. É incorreto considerar estes ataques de qualquer outra forma. São também uma grave violação da soberania da Síria, visando instituições e centros de serviços que servem todo o povo da Síria.”
Akid Abdel Majeed, administrador da estação de serviço de Suwaydiyah, disse ao RIC no dia 25: Os ataques da Turquia “concentraram-se principalmente na destruição dos meios de subsistência da população, atingindo infra-estruturas como estações de gás, eletricidade e petróleo, moinhos e centros de saúde. Os ataques do dia 23, que atingiram estações de petróleo e gás e instalações industriais, levaram à interrupção do bombeamento de petróleo e gás e, consequentemente, à interrupção da central de gás que abastece as turbinas com gás limpo para gerar eletricidade. Isto levou à paragem das turbinas de eletricidade e, consequentemente, as nossas zonas ficaram sem eletricidade desde o momento em que os ataques tiveram lugar.”
“Concluímos destes ataques que [a Turquia] é contra todas as formas de projectos democráticos, a unidade dos povos e a solução política pacífica – em relação à Síria ou ao Médio Oriente. Como sabemos, há mais de dez anos que está a ser construída uma administração democrática, que administra a região norte e leste da Síria. Esta administração tornou-se um exemplo para o mundo e uma esperança de liberdade e de uma vida digna para o povo sírio – com todas as suas componentes. Consideremos os recentes desenvolvimentos: o novo Contrato Social, no qual as pessoas puderam ver soluções e desenvolvimentos, e também a quarta conferência do Conselho Democrático Sírio com todos os partidos, organizações e indivíduos que participaram e, além disso, a unidade dos diferentes povos da região.”
“Por esta razão, o Estado turco pratica regularmente estes actos criminosos, contrariando as constituições, as leis internacionais e os direitos humanos, e exporta a sua crise interna, mata a população à fome, espalha o medo e o pânico e abre as portas à migração de pessoas para outros países, o que dá continuidade ao projeto de alterações demográficas da Turquia na região.”
O Comandante-Geral das SDF, Mazloum Abdi, declarou no dia 25: “A agressão da Turquia tomou hoje um rumo perigoso, alargando o seu alvo às infra-estruturas e instalações civís no Norte e Leste da Síria. Esta situação causa enormes perdas a civis e indica a adoção de uma nova política de extermínio. Os ataques constantes constituem uma escalada, aumentando o nível de tensão, o que compromete a estabilidade.”
LISTA COMPLETA DE ATAQUES AÉREOS (A PARTIR DAS 22:00) 23.12.2023
- Campo petrolífero de Odeh, Tirbespi;
- Campo petrolífero de Sayeeda, Tirbespi;
- Central eléctrica de Sabia;
- Fábrica perto de Tirbespi.
25.12.2023
- Zona industrial de Sadcop, Qamishlo;
- Tipografia, Qamishlo;
- Antiga estação de comboios, Qamishlo;
- Fábrica de cimento, Qamishlo;
- Moinho, Qamishlo;
- Silos de cereais, Qamishlo;
- Fábrica de algodão, Qamishlo;
- Parque perto da prisão de Alaya, Qamishlo;
- Armazém de cerâmica, Qamishlo;
- Estação de serviço de Al-Falaheen, Qamishlo;
- Fábrica de materiais agrícolas, Qamishlo;
- Fábrica de embalagem de lentilhas, Amude;
- Salão de casamentos, Amude;
- Fábrica de azeite, Amude;
- Aldeia de Mehrkan, Tirbespi;
- Clínica Meshtanour, Kobane;
- Mecânico de automóveis, Kobane;
- Fábrica de rações, Kobane.
CONTACTO
Contacta o Centro de Informação de Rojava através do WhatsApp: +963 992 461 683 para fotos, vídeos, comentários e contacto com entrevistados no terreno.
Deixe um comentário