Testemunho do 2º evento do Projeto Vulva. @vulva.project .
English below
1 de março – Na Sirigaita, um espaço ativista e autogerido nos Anjos, Lisboa
Este espaço está ameaçado de encerramento. Para os ajudar e lutar contra a gentrificação, informe-se em https://sirigaita.org/index.php/nao-entregamos-as-chaves/
Uma multidão de vulvas está reunida numa parede. Diversidade de forma, tamanho, cor, textura, … A normalidade foi decidida pelo mainstream patriarcal e pela pornografia. Não corresponde à realidade.
Algum artista apresenta seu trabalho em torno da vulva. Também é um produto natural para corpos. Um canto escondido permite tirar fotos e fazer parte da “parede da vulva”. Um lugar de cuidado e paz.
Alguns olhares abertos encontram-se.
Surpreendidos, curiosos, aliviados
20h – Carmo Gê Pereira, @carmogepereira, apresentou o seu trabalho sobre a vulva. Ensinou-nos sobre as raízes, os significados e o uso do vocabulário em torno da vulva, e como este tem influenciado as mentalidades. “Partes femininas”, “partes íntimas”, “partes genitais”, “órgãos genitais”, “partes reprodutivas”, muito, mas não Vulva. Esta parte do corpo de metade da população tem sido escondida, mal compreendida, diabolizada, ignorada. Para libertar a vulva da opressão, temos de usar as palavras certas. O pior é que isso resultou em problemas médicos. Temos o direito de saber como somos feitos, de viver saudáveis e felizes! Este conteúdo que a Carmo criou estará brevemente disponível na web e em papel, fiquem atentos.
Algumas pessoas são deitadas de costas, no tapete
Gostam de ouvir uma história
Também aprendemos sobre o seu funcionamento. De que são compostos a vulva e o clítoris, como funcionam, para que são feitos. Biologia que devemos aprender na escola. Sabias que o clítoris tem mais de 10.000 terminações nervosas? A sua estimulação leva à libertação de fluidos das glândulas sexuais. #itisnotpee. Risos. A lubrificação, a estimulação, o orgasmo e tantos outros temas precisam de estudos médicos, e não de estudos conduzidos com o olhar masculino cisgénero. Há alguns, mas quase nenhum.
Uma senhora idosa enruga o nariz,
talvez ela não consiga ouvir muito bem.
Uma mulher ao seu lado,
é parecida com ela, mas mais nova,
tem um pequeno sorriso.
Um homem idoso com a sua bengala senta-se desde o início ao lado de um banco vazio.
Ele parece aprovar muito o que é dito.
Pequena pausa. Aplausos e sorrisos. Discussões.
21h – O local está cheio de gente.
A segunda parte é uma conversa entre Mó, @mo_so.mo, e o público. Pedem-nos que escrevamos num post-it como se chama a nossa vulva. Precisam que se trata de uma pergunta auto-determinada. “Só tu é que sabes se achas que tens uma vulva ou não”. Momento muito inclusivo, as pessoas transgénero são consideradas. O mesmo acontece com as pessoas que não falam português, que são convidadas a juntar-se para receberem a “tradução pessoal” de Carmo.
Uma pessoa na frente exprime-se: “Nunca uso a palavra “vulva”. Soa estranho e faz-me sentir um pouco envergonhada“.
Ao usarmos as nossas próprias palavras para falar sobre a vulva, recuperamos o poder. A literatura científica sobre a vulva tem sido escrita por homens brancos cisgénero. A história é escrita pelo opressor. Vamos escrever a nossa própria história.
Aparecem post-it num quadro branco: “Gina”, “Patata”, “Schneck”, “Nest”, “Treasure”, …
Depois de um tempo de partilha, o jantar é anunciado. “Orgasmo culinário garantido!”
As pessoas de ouvidos abertos.
Sentir-se seguro. Aliviar-se de encontrar um lugar onde
Exprimir-se por uma vez e ser convidado.
Nem sujo, nem mau, nem culpado, nem escondido, nem discriminado, nem vergonhoso, nem feio,
Mas uma fonte de alegria, prazer, liberdade, bem-estar, auto-entendimento.
Conhecermo-nos a nós próprios é recuperar o poder
Testimony of the 2nd Vulva Project event. @vulva.project .
1 march 2024 – At Sirigaita, an activist and self-managed place in Anjos, Lisboa
This place is threatened with closing. To help them and fight gentrification, get informed on https://sirigaita.org/index.php/nao-entregamos-as-chaves/
A multitude of vulva are gathered on a wall. Diversity of shape, size, color, texture, … Normality has been decided by patriarchal mainstream and pornography. It doesn’t fit with reality.
Some artist presents their work around vulva. Their is also natural bodies product. A hidden corner allow to take picture and be part of the “vulva wall”. A place of care and peace.
Some opened gaze meet.
Surprised, curious, relieved
20h – Carmo Gê Pereira, @carmogepereira, presented her work about vulva. She taught us about the roots, the meanings and the use of the vocabulary around vulva, and how it has influenced mentalities. “Feminin parts”, “intimate parts”, “Genital parts”, “Genital organs”, “reproductive parts”, a lot but not Vulva. This body part of half the population has been hidden, misunderstood, diabolized, ignored. To free vulva from oppression, we must use the right words. The worst is that it resulted in medical problems. We have the right to know how we are made, to live healthy and happy ! This content Carmo created will soon be available on web and on paper, stay tuned.
Some people are laid down on the back, on the carpet
Like to listen to a story
We also learned about its functioning. With what vulva and clitoris are composed of, how it works, what it is made for. Biology that we should learn at school. Did you know that clitoris has more than 10,000 nerve endings ? Its stimulation leads to release of fluids, from sexual glands. #itisnotpee. Laughter. Lubrication, stimulation, orgasm, and so many more topics need medical studies, not lead with cisgender male gaze. There are some, but almost none.
An old lady wrinkle her nose,
maybe she just can’t hear very well.
A woman beside her,
looks just like her but younger,
has a little smile.
An elderly man with his cane sits from the beginning beside an empty stool.
He seems to approve of what is said very much.
Short break. Applauses and smiles. Discussions.
21h – The place is crowded.
The second part is a conversation between Mó, @mo_so.mo, and the audience. They ask us to write on post-it how do you call our vulva. They precise that it is a self-determined question. “You are the only one who knows if you think you have a vulva or not”. Very inclusive moment, transgender people are considered. The same with non-portuguese speakers, they are invited to gather to have “personal translation” by Carmo.
Someone in the front expresses herself : “I never use the word “Vulva”. It sounds weird, and makes me feel a bit ashamed.”
By using our own words to talk about vulva, we take the power back. Scientific literature about vulva has been written by white cisgender men. History is written by the oppressor. Let’s write our own.
Post-it appear on a white board : “Gina”, “Patata”, “Schneck”, “Nest”, “Treasure”, …
After a sharing time, dinner is announced. ”Culinar orgasm guaranteed !
Those people with open ears.
Feeling safe. Relieve to find a place where
Express yourself for once you are invited to.
Neither dirty, nor bad, nor guilty, nor hidden, ni discriminated, no shameful, nor ugly,
But a source of joy, pleasure, freedom, well-being, self-understanding.
Knowing ourselves is taking the power back.