Crueldade invisível? A realidade da exportação marítima de animais vivos para abate

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Enquanto a sociedade portuguesa avança em muitas frentes, há uma realidade cruel que continua a acontecer longe dos olhos do público: a exportação de animais vivos por via marítima. Desde 2015, Portugal envia centenas de milhares de bovinos e ovinos para o Médio Oriente e Norte de África, condenando-os a viagens longas, exaustivas e desumanas. Só em 2023, meio milhão de animais foram sujeitos a este destino.

O transporte dura, em média, nove dias, mas o tempo total pode ser muito maior, considerando as deslocações rodoviárias que antecedem e seguem a viagem marítima. Durante este percurso, os animais enfrentam condições deploráveis. Relatos documentam desidratação severa, doenças, cegueira, stress extremo e, em muitos casos, morte. Muitos chegam ao destino fracos demais para sequer se manterem de pé. Além disso, estes barcos não têm acompanhamento veterinário adequado, o que agrava ainda mais o sofrimento dos animais.

Os impactos desta prática não são apenas éticos. A exportação de animais vivos tem consequências ambientais gravíssimas. Segundo um estudo da associação ZERO, uma única viagem de um navio-estábulo entre Portugal e Israel emite tanto CO₂ como 35.700 viagens de automóvel entre Lisboa e Porto. Em plena crise climática, com metas ambiciosas de neutralidade carbónica, Portugal continua a permitir uma atividade que contribui massivamente para a degradação ambiental.

Para piorar, os esforços para manter este negócio não trazem benefícios reais à economia nacional. Um estudo recente da Human Behaviour Change for Life mostra que os ganhos financeiros são mínimos, enquanto os custos ambientais e éticos são imensos. Outros países europeus, como a Alemanha, Luxemburgo e Holanda, já proibiram ou restringiram a exportação de animais vivos para fora da União Europeia. Portugal não tem qualquer justificação para continuar a permitir esta prática.

A indignação cresce. Não é raro haver relatos de carregamentos de bovinos e ovinos brutalmente forçados a embarcar para um destino sempre mais cruel a partir do porto marítimo de Setúbal. As imagens, os sons e os relatos das testemunhas desses eventos são difíceis de interpretar e aceitar em consciência, mas fechar os olhos não é opção. Independentemente da escolha alimentar de cada um, esta é primeiramente uma questão de dignidade e justiça. Mesmo sem se querer olhar à saúde daqueles animais e dos seus consumidores, bem como poluição, é imperativo diminuir o sofrimento que causamos aos animais que estamos a explorar.

É urgente construir e nutrir todas as redes de ativistas e cidadãos comprometidos em acabar com estas atrocidades. Apoiar, assinar e divulgar a petição pela proibição da exportação de animais vivos por via marítima é um passo essencial nesta discussão e processo de luta também política.

👉 Assinar Petição

Todas as ações, mais indirectas ou diretas, são precisas. Muitos milhares de animais nascidos neste canto à beira mar estão a ser transportados, obviamente contra a sua vontade, em condições bárbaras neste exato momento. A mudança de paradigma necessária para isto por fim acabar depende de todos nós, e isto é, não depende deles.

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